sexta-feira, 7 de novembro de 2008

História: No centenário da sua morte, Trindade Coelho é um exemplo cívico - director da Hemeroteca

07 de Novembro de 2008, 10:13
Lisboa, 07 Nov (Lusa) - O escritor e político Trindade Coelho, falecido há cem anos, "é um exemplo cívico na actual crise de valores", sublinhou Álvaro Matos, da Hemeroteca de Lisboa que organiza palestras sobre o autor de "Os meus amores".
O director da Hemeroteca Municipal de Lisboa salientou à Lusa "o exemplo cívico" de José Francisco Trindade Coelho "que foi uma figura importante na sua época pelos princípios que sempre defendeu, mas também pela sua obra literária, jurídica, jornalista e política".
"Politicamente sobressai o seu exemplo cívico, tendo em conta o contexto actual de crise valores, a crise de ética nos diversos aspectos na área económica, política, social e cultural", realçou Matos.
"A sua ruptura final com a ditadura de João Franco [presidente do conselho de ministros do Rei D. Carlos] é sintomática disso. Acima de tudo, Trindade Coelho tinha um conjunto de valores de que não abdicava. Manteve esse trajecto de vida até ao fim. De certa forma o seu suicídio [em 1908] é o corolário dessa ruptura e dessa ideia de decadência que atravessa a sociedade portuguesa, e ele lida muito mal com isso", explicou.
Álvaro Matos afirmou à Lusa que Trindade Coelho "é praticamente desconhecido das gerações actuais, mas é uma figura incontornável que marcou a sua geração".
A Hemeroteca "aproveitou o centenário da sua morte para dar a conhecer melhor esta figura, e outras obras para além dos contos 'Os meus amores', ao lado de outras facetas de um homem que foi muito importante".
O responsável referiu ainda a obra "In illo tempore" (1902), em que Coelho "faz a narrativa dos seus tempos de Coimbra".
Outra faceta destacada por Álvaro de Matos é a de pedagogo, designadamente através da sua obra "Manual Político do Cidadão Português", que "é pouco conhecida, mas é fundamental, uma espécie de bíblia política de Portugal daquela época e que é também paradigmática da sua preocupação pela educação cívica para com os seus contemporâneos".
Segundo Álvaro Matos, esta obra publicada em 1906 é "um manual que todo o cidadão activo, construtivo, devia ler e reter, pelo menos nos seus aspectos essenciais".
O director da Hemeroteca, localizada no Bairro Alto, sublinhou "a grande actualidade dos princípios enunciados no 'Manual Político do Cidadão Português', designadamente nos valores éticos da República e nos valores democráticos".
Álvaro Matos não hesitou em aconselhar a sua leitura aos políticos e a cidadãos empenhados e participativos na sociedade.
No âmbito do ciclo de colóquios, a próxima palestra realiza-se sábado na Casa Regional de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Lisboa, por Alexandre Parafita, e intitula-se "Trindade Coelho, folclorista".
O ciclo encerra na Hemeroteca, instalada no Palácio dos Condes de Tomar, dia 12, com uma palestra do historiador António Ventura, intitulada "Trindade Coelho, jornalista portalegrense".
José Francisco Trindade Coelho nasceu a 18 de Junho de 1861 em Mogadouro, partidário do ideário republicano, pugnou na senda de João de Deus, desenvolveu intensa actividade pedagógica.
Publicou doze títulos, três deles póstumos. O livro de contos "Os meus amores" foi o seu primeiro titulo, publicado em 1902, que alcançou sucesso editorial.
NL.
Lusa/Fim

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