segunda-feira, 14 de abril de 2008

Makuduron Dois

Makuduron Dois
(Terra fatal e inevitável)
Marok, 2003

Depois daquele fatídico dia de outono...

Um daqueles dias de outono em que tudo se vê azul, búzio, em que abres a janela e está nevoeiro, ligas a rádio e passam um blues, em que só te apetecia ser uma violeta africana atrás duma janela, num qualquer gabinete com ar acondicionado, um dia daqueles em que se tomam decisões irrevogáveis...

Foi num dia assim que decidi queimar o Um antes de alguém o ter lido.

E hoje, passados anos, não é possível rescreve-lo, mas posso continuá-lo...

Isto, é a segunda parte de qualquer coisa sem primeira parte, sem início, pelo que dificilmente terá um fim, a não ser que lho demos.

Por isso não esperes encontrar nada de novo por aqui...

Talvez este Dois também não exista, talvez tudo isto não passe duma partida do teu cérebro ou daquilo que andas a meter... talvez seja real como a vida, mas o mais certo é ser um atrofio como tu... como eu...

De qualquer modo, as coincidências de nomes, situações ou lugares, são apenas isso, meras coincidências... ou imaginação tua.

Estamos praticamente no final do Outono, está frio, escuro, mas na rádio não passam nenhum blues, nem eu penso tomar qualquer decisão irrevogável, apenas pretendo que passemos juntos o tempo de leres esta página.

Esta semana os portugas descobriram que são “todos” uns pedófilos pervertidos e que afinal aquela do “machão” era só história... como a dos descobrimentos... E cada dia descobrimos com cada uma! Enfim... que isto não é nada do que parece...

Eu esta semana descobri que cada vez os entendo menos, que cada dia que passa, em vez de me sentir mais integrado, me sinto mais diferente. Claro que isso não me incomoda, até me orgulho, desde que não exageres. Ao fim e ao cabo já estou imune, já cá ando há alguns anos...

Acho que ultimamente me tenho esquecido de ser eu... mas não sei quem tenho sido, acho que tenho sido uma merda, mas é disso que eu sou feito: de bué de merdas...

E tu? Já paraste para pensar o que é que andas cá a fazer? Será que depois de te despir as marcas que levas em cima e o gel ficamos com alguma coisa? Será que tu és só o corpinho que vemos passar? Será que és conforme é preciso? Será que acabas quando morres?

Será que sabemos ser gente? E o que é ser gente?...

Será que podemos mudar de assunto?

Ya!

Então conta lá...

E que queres tu que eu te conte, isto aqui é sempre igual, somos sempre os mesmos, no mesmo sítio, a queixar-nos pelos mesmos motivos e sem tomar qualquer atitude para mudar as coisas... Makuduron é mesmo fatal e inevitável!

Outra coisa: nunca imaginei que o facto de eu ser tal como sou incomodasse tanto os demais... será que tem um efeito reflector e começam a ver-se em mim como num espelho?!

Era a primeira vez que eles vinham visitar-me, pelo que lhe descrevi pormenorizadamente o caminho e a localização do tasco, só que para variar, atrasei-me...
Eles entraram e a primeira coisa que repararam, para além de dois ou três rapazinhos que estavam dentro do balcão, foi que só havia homens naquele lugar. A princípio, pensaram ser uma coincidência, e ficaram a beber um copo. Mas depois, ao ver as brincadeiras entre os chavalinhos do balcão, e entre estes e alguns clientes, acabaram por pagar rapidinho e pôr-se a andar dali para fora, acabando por pensar que, como eu não apareci, só podia ter ficado de me encontrar com eles ali por brincadeira...
Mas não, estavam enganados, era mesmo o tasco onde eu costumava parar, e não é um tasco gay, é um tasco bi, acho eu...

Sabes que yo de vez en cuando se me cambia el chip y me salen las cosas en otro idioma... pero creo que me entiendes igual, al fin y al cabo el castellano y el portugués no son tan diferentes, lo que si puede pasar c’est I começar a mélanger all the idiomas, and entonces personne puede understand me... Era fixe falar assim, não era?

Ya, e os pensamentos deveriam ter cheiro, de acordo com a sua natureza. Imaginas?! Aposto que não se podia estar ao pé de muita gente quando estivessem a pensar. Esses teriam que ir pensar para a casa de banho e quando acabassem tinham de puxar o autoclismo para que a água levasse o aroma das suas ideias... de merda...

Quando não estou bem gostava de ser normal, como os outros, mas no fundo sou feliz por ser assim.

Insolente, insondável e insólito.

Como costumo dizer, qualquer semelhança com o meu passado é mera coincidência; mas eu tenho um passado tão filho da puta que nunca mais passa ...

Reivindico a abolição incondicional do primeiro dia de trabalho após as férias!

Já sei que há quem diga que o trabalho é dignificante, mas a Bíblia, que é muito sábia, diz que este é apenas um castigo divino, resultado da história do Adão com a Eva e as maçãs, pelo que eu penso que a dignificação de uma pena será, pelo menos, constitutiva de delito criminal...

Tenho um recado para os meninos bonitos: OS FEIOS SOMOS MUITOS MAIS!

É pela doçura que vencemos a cólera, pelo bem que vencemos o mal, pela verdade a mentira.

Os bons, raramente são os melhores...

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