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segunda-feira, 14 de abril de 2008

Makuduron Dois

Makuduron Dois
(Terra fatal e inevitável)
Marok, 2003

Depois daquele fatídico dia de outono...

Um daqueles dias de outono em que tudo se vê azul, búzio, em que abres a janela e está nevoeiro, ligas a rádio e passam um blues, em que só te apetecia ser uma violeta africana atrás duma janela, num qualquer gabinete com ar acondicionado, um dia daqueles em que se tomam decisões irrevogáveis...

Foi num dia assim que decidi queimar o Um antes de alguém o ter lido.

E hoje, passados anos, não é possível rescreve-lo, mas posso continuá-lo...

Isto, é a segunda parte de qualquer coisa sem primeira parte, sem início, pelo que dificilmente terá um fim, a não ser que lho demos.

Por isso não esperes encontrar nada de novo por aqui...

Talvez este Dois também não exista, talvez tudo isto não passe duma partida do teu cérebro ou daquilo que andas a meter... talvez seja real como a vida, mas o mais certo é ser um atrofio como tu... como eu...

De qualquer modo, as coincidências de nomes, situações ou lugares, são apenas isso, meras coincidências... ou imaginação tua.

Estamos praticamente no final do Outono, está frio, escuro, mas na rádio não passam nenhum blues, nem eu penso tomar qualquer decisão irrevogável, apenas pretendo que passemos juntos o tempo de leres esta página.

Esta semana os portugas descobriram que são “todos” uns pedófilos pervertidos e que afinal aquela do “machão” era só história... como a dos descobrimentos... E cada dia descobrimos com cada uma! Enfim... que isto não é nada do que parece...

Eu esta semana descobri que cada vez os entendo menos, que cada dia que passa, em vez de me sentir mais integrado, me sinto mais diferente. Claro que isso não me incomoda, até me orgulho, desde que não exageres. Ao fim e ao cabo já estou imune, já cá ando há alguns anos...

Acho que ultimamente me tenho esquecido de ser eu... mas não sei quem tenho sido, acho que tenho sido uma merda, mas é disso que eu sou feito: de bué de merdas...

E tu? Já paraste para pensar o que é que andas cá a fazer? Será que depois de te despir as marcas que levas em cima e o gel ficamos com alguma coisa? Será que tu és só o corpinho que vemos passar? Será que és conforme é preciso? Será que acabas quando morres?

Será que sabemos ser gente? E o que é ser gente?...

Será que podemos mudar de assunto?

Ya!

Então conta lá...

E que queres tu que eu te conte, isto aqui é sempre igual, somos sempre os mesmos, no mesmo sítio, a queixar-nos pelos mesmos motivos e sem tomar qualquer atitude para mudar as coisas... Makuduron é mesmo fatal e inevitável!

Outra coisa: nunca imaginei que o facto de eu ser tal como sou incomodasse tanto os demais... será que tem um efeito reflector e começam a ver-se em mim como num espelho?!

Era a primeira vez que eles vinham visitar-me, pelo que lhe descrevi pormenorizadamente o caminho e a localização do tasco, só que para variar, atrasei-me...
Eles entraram e a primeira coisa que repararam, para além de dois ou três rapazinhos que estavam dentro do balcão, foi que só havia homens naquele lugar. A princípio, pensaram ser uma coincidência, e ficaram a beber um copo. Mas depois, ao ver as brincadeiras entre os chavalinhos do balcão, e entre estes e alguns clientes, acabaram por pagar rapidinho e pôr-se a andar dali para fora, acabando por pensar que, como eu não apareci, só podia ter ficado de me encontrar com eles ali por brincadeira...
Mas não, estavam enganados, era mesmo o tasco onde eu costumava parar, e não é um tasco gay, é um tasco bi, acho eu...

Sabes que yo de vez en cuando se me cambia el chip y me salen las cosas en otro idioma... pero creo que me entiendes igual, al fin y al cabo el castellano y el portugués no son tan diferentes, lo que si puede pasar c’est I começar a mélanger all the idiomas, and entonces personne puede understand me... Era fixe falar assim, não era?

Ya, e os pensamentos deveriam ter cheiro, de acordo com a sua natureza. Imaginas?! Aposto que não se podia estar ao pé de muita gente quando estivessem a pensar. Esses teriam que ir pensar para a casa de banho e quando acabassem tinham de puxar o autoclismo para que a água levasse o aroma das suas ideias... de merda...

Quando não estou bem gostava de ser normal, como os outros, mas no fundo sou feliz por ser assim.

Insolente, insondável e insólito.

Como costumo dizer, qualquer semelhança com o meu passado é mera coincidência; mas eu tenho um passado tão filho da puta que nunca mais passa ...

Reivindico a abolição incondicional do primeiro dia de trabalho após as férias!

Já sei que há quem diga que o trabalho é dignificante, mas a Bíblia, que é muito sábia, diz que este é apenas um castigo divino, resultado da história do Adão com a Eva e as maçãs, pelo que eu penso que a dignificação de uma pena será, pelo menos, constitutiva de delito criminal...

Tenho um recado para os meninos bonitos: OS FEIOS SOMOS MUITOS MAIS!

É pela doçura que vencemos a cólera, pelo bem que vencemos o mal, pela verdade a mentira.

Os bons, raramente são os melhores...

domingo, 9 de março de 2008

Vidas Alternativas 113

sinopse

Esta edição vai ouvir o representante da “Frente Polisário” em Portugal. Em entrevista o Sr. Adda Brahim, esclarece sobre as posições daquela organização e sobre a sua versão no que ao processo negocial com Marrocos diz respeito, da luta pela independência, de argumentos sobre a legalidade internacional e sobre o papel que Portugal pode desempenhar (aos 3’39’’). A “sociofonia” entrevista várias personalidades – Miguel Portas do Bloco de Esquerda e Ana Gomes do Partido Socialista – que lamentam as posições de Portugal neste conflito, acusando o governo português de agir segundo uma lógica de interesses momentâneos e de falta de princípios. António Baptista Silva enquadra-nos o problema saraui. (aos 23’ 45’’). Anne Vitorino ,professora de música, critica com apoio de muitas vozes, a contestada reforma do ensino público da música que esta a ser proposta, apontando falhas concretas dos arquitectos da reforma que parecem não entender da poda (aos 12’45’’).
A “Fenprof” (sindicato de professores) pela voz de Ana Gaspar, dá conta do mal-estar entre a classe dos docentes e o governo a propósito da reforma do ensino nas questões que tocam aos professores. (aos 38’05″).
António Pinho descortina o que sairá nas gordas do “Conversas de Café”. Este periódico dá destaque à opinião sem medo e entrevista por exemplo; Zé Pedro, guitarrista dos Xutos e Pontapés, ex toxicodependente que agora se empenha em avisar os jovens em campanhas de prevenção. (50’ 00″).
A morte de uma transexual,Luna,que os midia vêm apelidando de “travesti”, merece um remate sério e um apelo pungente a quem de direito (ver pagina do VA artigo sobre o assunto).

Jorge Salema

António Serzedelo

www.vidasalternativas.eu

(editor)

Na semana santa nao haverá programa VA .

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Vidas Alternativas 112

Sinopse va 112

Nesta edição, Ana Sofia Nunes da associação “Cidadãos por Lisboa” fala-nos da supressão de benefícios fiscais das pessoas portadoras de deficiências que esta em vigor desde a lei do orçamento de 2007.
Com a autoproclamação da independência do Kosovo, abriu a polémica sobre o direito à autodeterminação vs a coesão mínima no nosso Velho Continente. Que Europa e que União?
Luís Mateus ergue aqui a sua voz, que pode ser polémica….
O que já não é polémico é a aprovação da lei que despenalizou o aborto em certas condições. Continuamos a dar a voz a quem sabe e não fala de cor! Dina Curado é finalista de medicina, membro da associação “Médicos pela Escolha”, e testemunha a aplicação desta lei em todo o país.
Um breve intervenção da Claudia Pedra da secção portuguesa da Amnistia Internacional para clarificar o que aconteceu no Senegal, a propósito de uma declaração feita por um cidadão senegalês contra os DH do gays ,em nome da Amnistia que confundiu a opinião pública.(ver texto em baixo ,em inglês)

O psicólogo José Antunes comenta o livro de Chavier Urras sobre o “complexo de Imperador”, maleita de que se diz sofrerem os adolescentes e crianças vulgarmente designadas de “mimadas” que vão ao ponto de bater nos pais.
Na nova rubrica de abrir o apetite, Jorge Paixão entrevista a proprietária do restaurante “Bem me Quer,” que é casa de chá e lugar de menu vegetariano.

António Dores vem analisar a actualidade recente da política nacional. Os privados tem rédea solta, mas logo fogem a correr para a protecção do Estado. O papel dos reguladores da economia de mercado, e o discurso dúplice do governo.
O VA termina avisando que nao se editará durante o período da Quaresma.Chama a atençao para a próximas “Conversas Alternativas” no Skype, uma iniciativa mensal ,a iniciar-se em 9 de Março,e que terá lugar das 18 às 20 h, desta feita subordinada ao tema do diálogo intercultural .VEr mais infos neste portal.
Enfim, da´-se conta a última iniciativa do BE de promover no seu grupo parlamentar uma audição sobre transsexualismo, em que esteve presente uma importante delegação em nome da Opus com Eva Russo, transgender, Dra. Ana Filgueiras,conhecida activista da luta contra ao HIV,Dr.Décio, cirurgão do HSM,e dr Lourenço sexólogo do mesmo hospital, ambos especializados na área dos trangenders.
Foi a ocasião de ser apresentada ao BE a proposta da Opus Gay de uma “Lei de Identidade de Género”,que fora já antes entregue no CIG,durante o Ano Europeu pela Igualdade de Oportunidades.
Jorge Salema
António Serzedelo-editor

Senegal: Amnesty International’s position on decriminalization of homosexuality

You may have seen news stories today erroneously reporting that AI Senegal has opposed the decriminalization of homosexuality in Senegal. These reports are based on the statements of Samba Guissé, identified as the president of the national council of Amnesty International Senegal.

Mr. Guissé chairs an advisory group to AI Senegal. He is not a member of AI Senegal’s Board of Directors, and his statements do not reflect AI policy.

Mr. Guissé’s statements came after AI Senegal and other nongovernmental organizations called on Senegalese authorities to decriminalise homosexuality. The calls followed the arrest in Dakar earlier this month of nine men and one woman after the publication of photographs of a “marriage ceremony” between two men in Icones magazine. All were released before being officially charged. Amnesty International remains concerned for the safety of those accused of attending the “gay wedding” and human rights defenders working with lesbians, gay men, bisexual and transgender people in Senegal.

Laws that criminalize same-sex sexual conduct between consenting adults in private violate the rights to privacy, freedom from discrimination, freedom of expression and association, and other human rights. Amnesty International considers any person imprisoned solely on the basis of actual or presumed sexual orientation or gender identity or expression – including any person prosecuted for having sex with another consenting adult in private – to be a prisoner of conscience who must be immediately and unconditionally released.

Amnesty International calls on authorities in all countries to review any legislation that could result in the discrimination, prosecution and punishment of people solely for their sexual orientation or gender identity or expression. Such measures include “sodomy” laws or similar provisions outlawing sexual conduct between people of same-sex or transgender individuals; discriminatory age-of-consent legislation; public order legislation used as a pretext for prosecuting and punishing people solely for their sexual orientation or gender identity or expression; and laws banning the “promotion” of homosexuality which can be used to imprison lesbian, gay, bisexual, same-sex practicing and transgender individuals and human rights defenders. All such laws should be repealed or amended.

____________________

Eliane Drakopoulos
Press Officer
Amnesty International
Tel: +44 207 413 5564
Mobile: +44 7778 472 109

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Vidas Alternativas 111

Sinopse

A Sociofonia, apresenta uma reportagem completa sobre o último Fórum Social Mundial, evento que agrega diferentes sensibilidades que lutam e pensam um mundo alternativo (aos 3’ 12”).

O MDM,Movimento Democrático das Mulheres, vem pela voz de Lúcia, informar sobre a implementação da lei que em Portugal legalizou a Interrupção Voluntária da Gravidez. Ficamos a saber que os dados mostram que uma vez legalizado o aborto em certas condições, as mulheres não correram levianamente a pratica-lo como diziam os arautos da desgraça que faziam campanha pelo “Não” no referendo. Falta no entanto, divulgar os direitos das mulheres neste âmbito (aos 13’ 48”).

Apresentamos a revista “Dependências”, um periódico publicado por uma cooperativa independente onde os jornalistas primam por uma visão de independência rara no meio da comunicação social portuguesa. É uma parceira do “Vidas Alternativas”. Dedica-se à área social e Sérgio Oliveira seu dirigente fala-nos dela; da sua linha editorial dedicada às dependências, à saúde, ao desafio de conter o HIV – Sida (aos 23’ 36”).

Na mesma linha de estudo dos comportamentos sociais, a académica Marta Maia é entrevistada para nos falar da sua tese de doutoramento onde aborda os valores e vivencias da sexualidade e atitudes face às doenças sexualmente transmissíveis nos jovens franceses agrupados em duas classes sociais; os de classe média alta, e os de meio desfavorecido. Ficamos a saber que aqueles são mais românticos, que os segundos valorizam mais a virilidade e que, as representações da sexualidade variam em função do grupo social ( aos 37’ 22”).

O psicólogo José Antunes assume que não vê telenovelas mas pode falar delas enquanto fenómeno social. Aqui dá a sua opinião e sugestão, no que aos media diz respeito. Como representar a homossexualidade nas novelas e series? Qual a situação actual sobre a forma que essas representações apresentam? (aos 44’ 19”).

António Pinho, deixa-nos o resumo do “Conversas de Café”, nosso estimado jornal que desta feita publica notícias sobre a tentativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros fechar a bela tapada das necessidades ao público que dela quer fruir, à carga policial sobre os sócios do egrégio Grémio lisbonense, e de uma subversiva “matança do porco” feita no Alentejo às ocultas da ASAE. (aos 49’ 10”).

Jorge Salema
Antonio Serzedelo-editor

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Pela Noite, de Caio Fernando Abreu

“Entre dois homens, amor é igual a sexo que é igual a cú que é igual a merda. Sabe que não agüento merda? Eu vejo um cara e gosto e tal e me aproximo e rola umas, sempre rola umas, porque eu canto bem, eu sei cantar, veja que vaidade, e daí eu penso Deus, daqui a pouco a gente vai pra cama e chupa daqui, chupa dali, baba, roça, morde, e no fim inevitável tem o cú e a merda no meio. Você acaba sempre dando a bunda ou comendo a bunda do outro. Se você dá, ainda não é nada. Tem a dor, a puta dor. Caralho dói pra caralho. Tem uns jeitos, uns cuspes, uns cremes. Mas é nojento pensar que o pau do outro vai sair dali cheio da sua merda. Mesmo nos casos mais dignos, você consegue imaginar Verlaine comendo Rimbaud? E se você come o outro, tem a merda do cara grudada no teu pau. Mesmo no escuro, você sente. (…) Tem amor que resista? (…) Amor entre homens tem sempre cheiro de merda. (…) Por isso, eu não agüento. (…) Eu não consigo aceitar que amor seja sinônimo de cú, de cheiro de merda. (…) Ter cú é insuportável, é degradante você se resumir a um tubo que engole e desengole coisas. Eu não vou aceitar nunca que o ser humano tenha cú e cague. (…) E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo. No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. (…) Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você pode até gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda”.

Excerto de “Pela Noite”, de Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Vidas Alternativas 110

Sinopse.

Marinho Pinto, bastonário da ordem dos advogados, vem à comunicação social denunciar aquilo que chama de condescendência da sociedade portuguesa em relação à corrupção e alertar para a reposição da moralidade da vida pública. Logo é atacado por uns e apoiado por outros. António Dores, nosso colaborador frequente, escreve num jornal a defender o bastonário e aqui, explica-nos porquê. (aos 2’ 45″).



O regicídio agita as águas 100 anos depois. O centenário do assassínio do penúltimo rei português, D. Carlos, ainda divide opiniões. Aqui apaixonam-se na conversa com Luís Mateus, onde se fala da tentativa de branquear o monarca. Mas com que objectivos sociais, doutinais, ou políticos? Discute-se aqui a memória e os objectivos que ela serve no Portugal hodierno. (aos 14’ 07”).

Luís Maçarico faz um “raide” súbito de poesia e lê o seu “Ritual” (aos 27’ 16”).



Os pequenos partidos foram ameaçados de extinção pela lei. Logo corre o legislador a modifica-la. Mas isto não é tudo. Os pequenos partidos são voz que importa ouvir. Miguel Duarte do Movimento Liberal Social, fala das dificuldades vividas por certos aspectos da lei e esclarece com propriedade, sobre os regimes jurídicos europeus no que a este assunto diz respeito, sobretudo as recomendações do Conselho da Europa (aos 27’ 50 “ até 37’ 52).



É o Conselho da Europa, quem por intermédio do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, condena a França num acórdão recente e que faz tremer a jurisprudência no que concerne aos direitos gay na área da igualdade na adopção. A Rádio França Internacional entrevista naquele país, e em Portugal, António Serzedelo, sobre a situação das adopções e do caminho que falta percorrer. (aos 41’ 00”).

A fechar, e porque o Vidas Alternativas tem nova rubrica de “gastronomia” (ver site, receitas), entrevistamos o chefe Gabriel Filipi, gourmet que, imagine-se, presta serviço ao domicílio. Ele esta “armado” de influencias inglesas, italianas, portuguesas e outras que mescla na “cozinha de fusão”,http://www.defusao.com combinando os sabores de diversas latitudes. (aos 51’ 20”).
Jorge Salema

António Serzedelo-editor

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Excertos da vida de um gay ex-toxicodependente em Mogadouro

1999-04-23:
Mas porque caralho é que os ponteiros do relógio hão de giras sempre no sentido dos ponteiros do relógio?
TOXICÓFOBOS – Não sei se a palavra existe, mas aqui há uns poucos-muitos-demasiados…
Eu às vezes digo umas coisas que mais me valeria calar, mas e não falo rebento… acho que é melhor voltar a escrever…
Acho que… nada, nada… tenho de dar a volta a esta merda!
Segundo os toxicófobos locais, se eu me dou com alguém, ou é para com parar ou para vender drogas… Jamais lhes passará pela cabeça que também preciso de amigos, mas que sou eu quem os escolhe, não eles…
“A verdade não deixa de ser verdade por não ser reconhecida”
“Não há princípio sem fim”
(Alguém me sabe explicar como é enquanto a verdade não é reconhecida e o princípio não chega ao fim?!...)
Parece que as pessoas que me receberam “tão” bem quando regressei, foi apenas para se armarem em boazinhas…
Ponto e à parte – Ponto e vírgula – Ponto de Cruz – Ponto de exclamação – Ponto de encontro – Açúcar em ponto –À hora em ponto – Dois pontos : TU TAMBÉM ÉS UN PONTO!!!
Puseram-me a etiqueta de “toxicodependente” com supercola e ninguém se dá ao trabalho de antepor um hipócrita “ex”…. Não importa… Não me sinto nem um “ex” nem um “tóxico; sinto-me eu e sinto-me bem. Sim, enquanto continuar a meter confusão a alguém, continuarei a ser eu, e eu sou assim… Não peço a ninguém que goste de mim porque eu também não gosto de ninguém…
Claro que os meus amigos são poucos, mas esses poucos não são ninguém, são alguém… Eu é que curtia ser ninguém, sem que ninguém se importasse comigo… mas não consigo…
Cada vez que nos queixamos do sítio onde estamos, apenas estamos a queixar-nos de nós próprios.
Se os outros não prestam e eu não sou melhor que eles… isto não vai a lado nenhum…
Será que ao saber o que se quer, se deixa de querer? Pois eu quero continuar a querer mesmo sem saber o que quero, não importa, se quero posso…
Há pessoas que me assustam, e não é pelo tamanho… Há outras pessoas que, apesar do tamanho, não me assustam, mas são as que mais receio…
Nada acontece por acaso, nem o próprio acaso… ou pensavas que eras tu que decidias?!
Acontece que, por acaso, certas pessoas costumam estar no sítio errado, no momento errado, e não há quem se entenda… com toda esta barulheira aqui à volta…
Li que um gajo está a fazer greve de fome contra a “amnistia” do 25 de Abril… se as coisas não melhoram acho que lhe vou fazer companhia…
Isto que estou a pensar, será difícil que saia grande merda… O melhor é fazer o que tem que ser feito e mais nada… Às vezes, normalmente, não sei se escrevo o que penso ou se penso o que escrevo…No meu pensamento vai uma confusão dos diabos e para escrever tem de sair tudo direitinho… É por isso que às vezes as coisas se atropelam e saem como saem… mas estão lá… tu é que tens de as por no lugar se quiseres perceber alguma coisa…para mim está bom assim…
Aclaremos algumas coisas: eu não me pareço nadinha com o gajo que tu vês todos os dias, não!... Nem penses!... Só que a mim dá-me gozo ver como as pessoas me julgam e fazem ideias de mim totalmente erradas… Enquanto ninguém descobrir como realmente sou, poderei preservar a minha personalidade.
A sociedade, quando passas dos trinta, espera que constituas uma família normal e corrente, te vistas de forma normal e corrente, leves uma vida normal e corrente, e que sejas igualzinho aos outros da tua idade, que por sua vez são normaizinhos e correntes como todos os demais… E depois, quando um gajo não tem nada a ver com o lugar onde lhe tocou viver, e muito menos com a merda de sociedade do sítio, vê-se fodido para que o deixem levar uma vida nas calmas, pois toda a gente tem a mania que sabe exactamente como é que um gajo havia de fazer e de ser… Obrigado meu Deus por ser como sou e não ser nada que se pareça com eles, podes crer!
E hoje?... Hoje foi ontem… Amanhã será hoje… E hoje é hoje…. Haja lata!....
Quanto à poeira? Experimenta não experimentar nunca… ou nunca mais…

1999-10-19:
Isto é assim: continuo no mesmo sítio e com as mesmas paranóias de sempre… O facto de não dizer nada durante tanto tempo não significa que às vezes não me apeteça… mas a minha preguiça é infinita!...
Cada vez me pareço menos comigo próprio, mas como não me pareço com ninguém que eu conheça… é apenas mais uma das minhas brincadeiras para quebrar a rotina…nada.
Ao fim e ao cabo, eu faço o que me apetece… o problema é que cada dia me apetece fazer menos…
Às vezes apetece-me parar para pensar, para pôr as ideias no lugar, ou até para ver se mudo de ideias, mas não adianta… já o fiz e apenas consegui pôr as minhas próprias ideias no lugar e ter a certeza de que é assim mesmo e de que é uma perda de tempo, de que é muito melhor viver sem parar… sem pensar… apenas viver…
Viver… estar cá? Deixar-se andar? Curtir a vida? Ganhar dinheiro?... O que é que será?!... Será dormir?...
Constantemente me tento consciencializar de que já sou grande, que já não sou nenhum puto, mas algo me grita cá dentro que eu quero ser sempre um puto, completamente irresponsável… Por isso continuo a passar pela vida como se não fosse de cá… como se a vida não fosse minha… ao ponto de às vezes me perguntar que caralho faço aqui… aqui ou noutro sítio qualquer…